ENTREVISTA COM CHRISTIAN FITTIPALDI / 2ª PARTE



Continuação da entrevista com Christian Fittipaldi... (Revista Speedway, 1998)

Speedway - Na F-1 você penou em times pouco competitivos. Na Indy você realizou o objetivo de entrar numa equipe de ponta, a Newman-Hass. O time é mesmo tudo o que você esperava ou te decepcionou em algum aspecto?
Christian - De uma coisa eu tenho certeza e assino embaixo: se a gente tivesse outro pneu, neste três anos a história teria sido bem diferente. Não sei se estaríamos no nível da Ganassi, mas nossos resultados com certeza seriam muito melhores. A desvantagem de pneu é enorme. A maior prova disso é a diferença de desempenho entre o Tony (Kanaan) e o Helinho (Castro Neves) este ano. Eles estão em equipes parecidas, com orçamento parecido. O Helinho até testa mais que o Tony. Mas o Tony usa Firestone e teve resultados muito melhores. Largou quase sempre entre os 14 primeiros, enquanto o Helinho, com Goodyear, estava sempre entre o 15° e 22°. Você acha que o Tony é tão mais rápido assim?

Speedway - Mas a Newman-Hass não cometeu falhas primárias este ano, como nos pit stops?
Christian - Sim, mas foi por falta de entrosamento, já que sete dos principais mecânicos são novos no time. Mas a equipe é top. Eu sei quanto dinheiro eles investem em testes e como preparam bem o carro. Além disso, o ambiente é ótimo. Eu me dou bem com todo mundo, do caro que o motor home ao chefe dos mecânicos. É uma equipe sem frescuras. Ninguém liga para aparência, o negócio dos caras é ganhar corrida. São racers de verdade. É um time em que você precisa ter personalidade. os caras esperam que você se imponha e fale as coisas.

Speedway - Você não acha que a equipe tem uma preferência por Andretti e dá a ele tratamento de primeiro piloto?
Christian - Em certas situações, quando ele estava melhor no campeonato  ou numa corrida, isso pode ter acontecido. Mas eles se esforçam para que a gente tenha equipamento e pessoal técnico iguais. Em 1996, por exemplo, em meu primeiro ano no time, não houve favorecimento, porque estive na frente do Michael em quase todo campeonato. Ele só me passou nas duas últimas corridas, mesmo assim porque duas das cinco vitórias dele eu dei de mão beijada (Detroit, em que liderava e errou na última relargada, e Elkhart Lake, quando teve o motor quebrado). O Michael está há oito anos no time e é natural que o trabalho seja um pouco direcionado para ele. Ele merece. Quantas vitórias o time não deve a ele e ao pai, o Mario, que ainda tem muita influência nas decisões? Mas esse privilégio um dia pode ser meu, dependendo do que eu faça nos próximos anos.



Speedway - A decisão de correr com um chassi fabricado pelo próprio time foi acertada? Os clientes que compraram o carro pronto da Reynard ganharam os últimos quatro campeonatos.
Christian - Para ser sincero, em 1997, no primeiro ano, talvez tivesse sido melhor ter corrido de Reynard, mas este ano não faria diferença. Nosso carro foi melhor em algumas pistas, eles forma melhor em outras, mas no geral estivemos sempre competitivos. Em 1999 vamos estar mais habituados ao carro e a tendência é de ir melhor. No túnel de vento, o projeto do Swift de 99 já mostrou um ganho de 8 a 10% de pressão aerodinâmica nos ovais e de 5% nos mistos.É bastante. Espero que o projeto de Fórmula 1 da Reynard os prejudique bastante.

Speedway - O Zanardi foi campeão com incrível superioridade este ano. Ele é o melhor piloto da Indy?
Christian - Ele é o que tá dominando a categoria hoje, mas em automobilismo as coisas mudam. Tem de se levar em conta que ele pilotou uma barata perfeita e que várias corridas vieram para ele. Ele teve sorte, mas isso não tira os seus méritos. Ele é um osso duro. É muito competitivo, guia para caramba nas corridas, por incrível que pareça, apesar das doideras que faz de vez em quando, é muito inteligente. Quando ele guia concentrado, com a cabeça no lugar, sem dar uma de louco demais, é um cara difícil de ser vencido. outra coisa impressionante é como o carro dele é forte, parece um tanque de guerra. Ele bate em todo mundo e nunca leva a pior.

Speedway - Não dar dor-de-cotovelo saber que o carro da Ganassi poderia ser seu? Você teve um oferta no meio de 1995, depois do segundo lugar em Indianápolis, e ficou meses enrolando o Chip Ganassi até assinar com a Newman-Hass...
Christian - Tenho que confessar que dá uma dor-de-cotovelo, sim. Dá até um pouquinho de inveja, o que é um sentimento natural, porque está relacionado ao desejo de se dar bem. Não teria inveja se não tivesse tanta vontade e não desse tanto duro para chegar lá. Nem por isso me arrependo da minha decisão. Não voltaria atrás. Na época não havia como comparar as duas ofertas. A Newman Hass tinha toda uma tradição e a Ganassi ainda não tinha se firmado com equipe de ponta. Até hoje o Chip e o Morris Nunn (engenheiro de Zanardi) brincam comigo. Às vezes eu passo por eles e eles falam: "Tá vendo, esse carro podia ser seu..."

Speedway - A Indy está passando por um rejuvenescimento. Os donos de time apostam cada vez mais nos pilotos jovens. Qual a vantagem dos mais novos?
Christian - A vantagem está relacionada à menor experiência: os caras que têm mais horas de vôo se expõem menos em situações mais críticas, porque já sabem o que pode acontecer. Um piloto mais jovem percebe menos isso e arrisca mais. Dou o exemplo da corrida de Houston: você acha que, debaixo daquela chuva, onde ninguém enxergava nada, o Bobby (Rahal) ia estar guiando 110% do que podia? Provavelmente ele deve ter pensado nos acidentes que já tinha vivido na mesma situação, isso sem falar, na família em casa e outras preocupações. Neste sentido, a falta de compromisso dos jovens é uma vantagem. Mas acho que a principal vantagem que os donos de equipe vêem é que um piloto jovem e talentoso pode ser uma aposta de longo prazo. É melhor investir em alguém com este perfil e ter uma perspectiva de vitórias por muitos anos que gastar uma grana em alguém mais experiente, de quem você só vai desfrutar por dois anos.

Speedway - Você ainda tem vontade de voltar à Fórmula 1?
Christian - Sim, mas só se a chance aparecer no momento certo, numa equipe competitiva. Não vou centrar meu trabalho na Indy pensando que a categoria é um degrau para a Fórmula 1. Vou andar o máximo porque tenho tesão em guiar os carros da Indy e porque é uma baita categoria, supercompetitiva e difícil. O fascínio da F-1é a tecnologia. Realmente, lá você está usando o que há de mais avançado no mundo. Se eu voltasse, teria a vantagem da experiência. Antes tudo para mim era fascinante, era novidade. Hoje não mesatisfaria se não pudesse vencer corrida. Uma coisa é vir para cada prova com a perspectiva de largar entre os oito primeiros, outra é viajar sabendo que se vai brigar no máximo pelo 20°.

Continua...

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