ENTREVISTA COM CHRISTIAN FITTIPALDI/ 1ª PARTE



O nosso quadro "Entrevista" traz nesta edição, uma entrevista com o piloto Christian Fittipaldi, sobrinho do bicampeão da F-1 e campeão da F-Indy Emerson Fittipaldi. A entrevista foi concedida a revista Speedway em 1998, após a realização do GP Austrália da F-Mundial. Em 1997 Christian sofreu um grave acidente que lhe deixou de fora de varias etapas, onde o piloto paulista teve a perna direita quebrada. Fittipaldi era piloto da Newman -Hass e tinha como companheiro de equipe o piloto norte-americano Michael Andretti. Um bate papo técnico sobre acertos dos carros, como também diferenças entre pilotagens em circuitos mistos e ovais, falando também de F-1 e sua atual carreira. Confira:

Speedway - O pódio na Austrália pode ser o começo de uma nova fase?
Christian - Tomara que sim. A corrida foi uma das poucas em que não tivemos problemas. Nosso pit-stops foram bons,, não nos envolvemos em nenhum acidente. A performance do carro foi bem animadora. Desde o nosso último teste em Sebring, antes de Houston, mexemos na suspensão traseira e corrigimos uma tendência a sair de frente no meio das curvas.

Speedway - Esta mudança no carro é a razão de você ter superado Michael Andretti com folga nas duas últimas provas?
Christian  - Talvez a modificação tenha me deixado mais confortável e se encaixando melhor aos meu estilo de pilotagem. Eu geralmente uso uma mola um pouco mais dura que o Michael na traseira e mais inclinação na asa dianteira, porque me do sério quando o carro sai de frente  no meio da curva. Já o Michael não se incomoda que o carro escape de frente. Na realidade ele detesta o carro com a frente pregadona na entrada das curvas. Em compensação, quando o carro escapa de traseira já sei que é um fim de semana em que o Michael está "mortinho". Estas diferenças de acerto têm a ver com o nosso jeito de guiar. Ele é mais violento entrando nas curvas, ataca mais as zebras.

Speedway - Ter um companheiro de equipe que acelere tanto não é um grande problema?
Christian - É ruim e ótimo ao mesmo tempo. É uma droga porque o cara te dá uma canseira. Todo mundo gosta de uma situação confortável, ninguém quer estar ralando 120% o tempo todo. Ao mesmo tempo é bom poder me comparar com um dos melhores caras da Indy. Em algumas situações, o Michael leva vantagem por já correr na categoria há 15 anos. Nós dois nos damos muito bem. A nossa diferença de idade e o fato de estarmos passando por estágios diferentes da carreira ajuda no nosso bom relacionamento.

Speedway - Certa vez, o Zanardi fez uma análise sobre os pilotos brasileiros e disse que sentia em você uma falta de confiança em superar o Andretti, mesmo depois de andar mais rápido nos treinos.
Christian - Se eu realmente sentisse isso seria melhor ter ido procurar outra coisa para fazer. Não acho que ele seja melhor que eu. Não existe ninguém perfeito. Não há nenhum piloto que tenha uma performance fora do comum em todas as corridas. Haverá sempre dias bons e dias ruins. É preciso saber tirar proveito das oportunidades. Um piloto precisa usar seu lado mais forte da melhor maneira possível e se defender do lado mais fraco, ou seja, fazer melhor que puder num dia em que a situação for crítica.

Speddway - Mas quando o Michael venceu cinco provas, em 1996, você não chegou a pensar que as oportunidades só surgem para ele? As vitórias dele e a sua má sorte não geram uma insegurança?
Christian - Não vou dizer que causam insegurança, mas com certeza não provoca uma baita autoconfiança. Quando as coisas começam a dar errado você se questiona se está fazendo tudo certo ou se pode corrigir  e melhorar algo. Nessa analise é preciso ser sincero.

Speedway -Você teve este questionamento este ano?
Christian - Tive.

Speedway - E a que conclusão chegou?
Christian - Que não posso desistir. Tenho vários ingredientes ótimos na minha mão, e se as coisas não estão dando certo hoje, um dia vão dar. faz parte da natureza do jogo.

Speedway - Você falou que um piloto tem seus pontos fortes e fracos. Quais são os seus?
Christian - Não é segredo para ninguém que o Michael guia muito em todos os ovais e que este meu lado não é tão forte. Sei que tenho de melhorar nos ovais. Ao mesmo tempo, estou me comparando com um cara que correu a vida inteira neste tipo de pista. Para mim, o Michael é o melhor piloto da Indy nos ovais. Em compensação, nas pistas em que nós dois temos a mesma experiência, nos mistos e em circuitos de rua, ele é forte, mas eu sei que muita vezes sou mais rápido. Depende do fim de semana, do jeito que o carro começa os treinos. Na chuva, eu guio bem mais rápido, porque tenho mais experiência.

Speddway -Qual é a grande dificuldade dos ovais?
Christian - O acerto do carro é mais justo. Precisa estar no ponto. Não existe aquelas história dos circuitos mistos, em que o carro está saindo um pouco de frente ou de traseira e o piloto fala: "eu vou assim mesmo, arrastando, escorregando de lado aqui, atacando uma zebra ali." No oval, se alguém fizer isso vai no muro. E você só consegue dominar o acerto do carro com experiência, à medida que vai ganhando quilometragem. Depois de três anos correndo em ovais já melhorei bastante. Já tenho mais confiança para deixar o carro com a frente ,mais neutra e dar uma arriscadinha a mais na classificação, já  começo a conhecer como o carro muda de comportamento em certas pistas, de acordo com o desgaste. Quanto mais se anda, mais se aprende.

Speedway - Zanardi e Franchitti falaram na coletiva na Austrália que mesmo Michael Schumacher, se viesse para a Indy, teria dificuldades nos ovais. Você concorda?
Christian - Não só nos ovais, mas nos mistos também. A categoria está muito competitiva, mano a mano. Para se dar bem é preciso ter tudo funcionado absolutamente 100%.

Speedway - Em que você evoluiu como piloto, comparando o estágio que você deixou a F-1, há quatro anos, e o atual?
Christian - Sem querer entrar no mérito de qual categoria é melhor, eu digo que evoluí porque ganhei experiência. Só o fato de ter mais quilometragem e de ser quatro anos mais velho me faz entender melhor tudo o que está a minha volta. Em varias pistas sei exatamente o que fazer para melhorar o carro nesta ou naquela curva, depois de apenas poucas voltas.

Continua...

Comentários

  1. Sempre bom ver matérias sobre os anos 1980-90. Lembro de uma entrevista na época do acidente, em que ele achava que tinha perdido o pé quando quebrou. Sua temporada de estreia em 1995 na Indy foi muito boa, quase vencendo em Indianápolis. Teve também boa participação na F1, com as limitadas Minardi e Arrows, deveria ter tido melhores oportunidades.

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