ENTREVISTA COM GALVÃO BUENO (PARTE1)
Estive à vasculhar meus arquivos e por acaso encontrei uma entrevista super bacana com o narrador esportivo da Rede Globo, Carlos Eduardo Santos Galvão Bueno. Entrevista essa concedida a Revista Racing em 1997. Como a entrevista é extensa, esta será a primeira parte. Boa leitura & um ótimo Natal!!!
RACING - Futebol ou automobilismo?
Galvão - (maroto) Basquete! Afinal, eu jogava...A sério, são tansmissões completamente diferentes. Futebol é muito mais simples. É driblou, passou, tomou, porrada, goleiro defendeu, foi gol ou não foi. O truque é trabalhar com a imagem e não querer ser mais importante que ela senão cai no ridículo. F1 é muito mais difícil. Se você ficar 70 voltas narrando as posições, com 20 voltas nêgo desliga aquela porra porque não há quem tenha saco. Aí, o que vale são todos os anos que você tem, a amizade com pilotos, projetistas, chefes de equipe e o garimpo de informações na sexta e no sábado. Tem que operar o monitor, ficar de olho em um monte de recursos para informar quem está melhorando, quem está se lascando, para o telespectador não perder nenhum momento. Sempre que acabo qualquer transmissão, reflito: "Pôxa, ficou uma merda!" Ou "Pôxa, ficou ótima!"
RACING - Senna ou Péle?
Galvão - Iiiichi, você quer me ferrar... Os dois foram o máximo ,os dois maiores orgulhos esportivos do Brasil. Não vou ver outro Péle nem outro Senna.
RACING - Você disse que daria dois anos de aprendizado no automobilismo a seu filho Cacá Bueno. Se não aprendesse, "iria criar galinhas". Dois anos depois, aos 21 anos, ele barbariza na Omega Stock car Classe B. Vai para a granja ou não vai?
Galvão - Vai criar galinha daqui a uns 20 anos, 25, quando acabar a carreira que eu acho que vai ser brilhante. Eu devia ao Cacá uma condição de andar um dia numa categoria boa, numa equipe de ponta. Ele andou bem de kart, uma turma forte com o Luciano Burti, Gastão Fráguas, Zaqueu Morioka, Marcelo Battistuzzi, só fera. Mas era tudo na base do "paitrocínio" , ou "mãetrocínio", que Lúcia, minha mulher, dava força ainda maior. Depois, de Uno, ele andou com a Alpi, do Marcos Penna, que foi um cara sensacional, mas ainda faltava. Na Stock, com apoio da Brahama, finalmente teve o Washinton Bezerra e o Ánesio Hernandez por trás e acho que mostrou serviço.
RACING - E o Popó Bueno, o mais novo? Este tem cara de alucinado...
Galvão - O Popó tem 18 anos, é uma incógnita. Ele fez um ano de kart no Rio, 10 provas, nove primeiros e um segundo. Depois, tanto ele quanto Cacá bateram um recorde: conseguiram ser reprovados na escola praticamente em todas as máterias. tirei os dois da pista de castigo. O Popó curtia mesmo é praia, Flamengo, estas coisas. Se empolgou e dei força para correr de Uno. O resultado é que na primeira etapa largou prá lá de vigésimo e na última foi o pole. Só melhorou.
RACING - E com vais ser conciliar o Galvão da Globo com o Galvão pai de piloto, levando pastinha debaixo do braço para vender patrocínio?
Galvão - É aquela história: não tem raça pior que mãe de miss e pai de piloto. Eu n ão encho o saco deles...
RACING - Mas, na Stock , te vi berrando um monte de palavrões...
Galvão - Claro! O Cacá resolveu ultrapassar o Paulão Gomes por fora na Curva 1, devia estar maluco! Xinguei mesmo. Mas no final ele venceu na categoria e eu fiz a festa. Mas não vou sair de pastinha, que não dá. Tratei de profissionalizá-los ao máximo. O Cacá quer prosseguir nas categorias Turismo, então quem vai cuidar dele é o Geraldo Rodrigues, da Reunion. O Popó quer monopostoss, assinei um contrato com o José Carlos Brunoro.
RACING - Voltando à F 1, há quem afirme que o Schumacher já atingiu um estágio mais coompleto do que Ayrton Senna. Se ele estivesse vivo, como seria esta briga?
Galvão - Só alguém embriaguado, no maior porre, pode ter dito isso. O Schumacher é um grande piloto, mas lamentavelmente não houve um confronto com o Senna. Aquele, de 94, teria sido fantástico. Ainda mais que Ayrton saiu com duas corridas de desvantagem e o Williams não estava na melhor fase. O Schumacher é um grande piloto, como foram o Emerson, o Piquet, o Prost, o Lauda, mas o Ayrton foi o melhor deles todos. É uma questão de opinião. A maioria está comigo.
RACING - O Pedro Paulo Diniz está em franca evolução. E o Rubinho Barrichello, está dando marcha à ré?
Galvão - O Pedro Paulo evolouiu demais e o Rubinho é um belo piloto. Ele criou uma grande expectativa dentro da Jordan, desgastou-se na equipe e enfrenta o mais difícil, que é recomeçar tudo. Mas está no lugar certo. O Paul Stewart tem a competência de dirigente que não como piloto e o Jackie é uma águia, está passando muita coisa para ele. Não tenho dúvida que vai evoluir junto com a equipe. O Pedro Paulo, hoje é confiante e consistente.
RACING - Sobre seu amigo Pelé. Ele é Ministro do Futebol? Nunca vi uma manifestação dele em relação ao automobilismo, e nós sabemos que lá fora do Brasil é sinônimo de bola e velocidade.
Galvão - Ele se preucupa com o futebol com justiça, porque é o carro-chefe, é onde estão os maiores problemas e é onde estão os maiores problemas e é, definitivamente, a paixão nacional. tem muito cara pilantra no meio, precisávamos mesmo de uma correção de rota. O que temos que fazerprocurá-lo buscando apoio para o automobilismo que é um esporte diferente, que precisa de investimentos, um monte de particularidades ausentes no futebol. Eu tenho ideia de conversar com ele para estudar uma solução para nossos pilotos no exterior. Nesta temporada foram quase 70 e não é justo que o envio de verbas para lá se transforme numa "lavagem de dinheiro". Temos que encontrar uma lei que facilite este envio, que irá financiar a carreira de um piloto. Ele vais ter que se se preocupar com isso mais tarde ou mais tarde. Não é a mesma coisa que fazer uma compra ou importar um bem. É fazer o nome do nosso país através da performance e do sucesso de um de seus cidadãos.
Continua...
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